1. |
Farewell
04:49
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"The dose of fatigue produced by labor is required for the assimilation of all televised decrees. WORK is the best police, retaining each individual by the brake of marketing slavery and forbidding the development of reason, of desire and of the pleasure of independence. Work subtracts the time and energy necessary to reflection, to dream, to concern, to love and to hate."
Farewell
Silence to the hills will prepare a farewell
to the best feelings that we once had
Our hearts are empty as well as our homes
Our hearts are empty as well as our mouths
Our hearts are empty as well as our lives
Buying what is already ours
Producing what you will never own
(our happiness)
Producing what you will never enjoy
(our sadness)
The images do not show the slums
The flowers on the television
are not grey as our flowers
Producing what you will never own
(our sadness)
Producing what you never enjoy
(our happiness)
The images do not show the slums
The yellow smiles on the television
offer the colors that are already ours
Without thinking
Without feeling
Without dreaming
Without living
I gave you a home
I was poor
I spent smiles of struggle
Struggling for you
I spent smiles of struggle
Bleeding for you
Struggling for you
Bleeding for you
Work
Consume
Die
"A dose de fadiga produzida pelo trabalho é necessária para a assimilação de seus decretos televisionados. TRABALHAR é a melhor polícia, retendo cada indivíduo pelo freio e impedindo o desenvolvimento da razão, do desejo e do prazer da independência. Pois faz despender enorme quantidade de energia nervosa, e subtrai essa energia à reflexão, à meditação, ao sonho, à inquietação, ao amor e ao ódio. "
Adeus
O silêncio aos montes vai preparando um adeus
aos melhores sentimentos que você um dia possuiu
nossos corações estão vazios assim como nossas casas
nossos corações estão vazios assim como nossas bocas
nossos corações estão vazios assim como nossas vidas
Comprando o que já lhe pertence
Produzindo o que nunca irá ter
(sua felicidade)
produzindo o que nunca irá desfrutar
(sua tristeza)
As imagens não lhe mostram os subúrbios
as flores na televisão
não são tão cinzas como nossas flores
Produzindo o que nunca irá ter
(sua tristeza)
produzindo o que nunca irá desfrutar
(sua felicidade)
As imagens não lhe mostram os subúrbios
sorrisos amarelados na televisão
te oferecem as cores que já lhe pertencem
Sem pensar
Sem sentir
Sem sonhar
Sem viver
Eu te dei um lar
eu era pobre
eu gastei os sorrisos de luta
lutando por você
eu gastei os sorrisos de luta
sangrando por você
Lutando por você
Sangrando por você
Trabalhar
Consumir
Morrer
O que resta de centelha de vida, quando somos arrancados às seis da manhã de nossos sonos intranquilos, sacudidos através de trilhos sob os trens suburbanos, espremidos diante da massa desconhecida em ônibus apertados, ensurdecidos pelo barulho das máquinas e empurrados, ao final do dia, para os lotados saguões das estações - momento em que a multidão comunga a fadiga e o embrutecimento solidário?
Vista, assim, da perspectiva do poder econômico, a vida cotidiana não passa de um tecido de renúncias e de mediocridade. Renunciamos viver em liberdade, renunciamos ter esperanças, renunciamos acreditar em verdadeiras mudanças, renunciamos ser solidários, renunciamos sentir compaixão pelos outros seres que dividem essa prisão social conosco, renunciamos amar e nos sentir amados. Trocamos nosso senso crítico e abraçamos, calorosos, a mediocridade. A vida é, de fato, um verdadeiro vazio.
Da adolescência à aposentadoria, a repetição das vinte e quatro horas se sucede com seu mesmo estilhaçamento, como balas que atingem uma janela: a repetição mecânica, o tempo-que-é-dinheiro, a submissão aos chefes, o tédio refletido nos ponteiros dos relógios, a dose de fadiga necessária à assimilação passiva dos decretos televisionados criada pelo trabalho. Da aniquilação da energia da juventude à ferida aberta da velhice, a vida é, sempre e diariamente, estilhaçada sob os golpes do trabalho forçado. Tudo isso basta para que possamos viver em um mundo reconfortante de ilusões.
Chegamos, pois, aos limites de desprezo pela vida.
Afogados no desgosto, nunca sentimos tanta raiva por estarmos vivos.
Não é somente um lugar específico (como os centros financeiros) ou uma entidade (como as corporações multinacionais), mas a própria relação social baseada no trabalho assalariado e na troca de mercadoria, que faz com que o lucro seja derivado da extorsão do trabalho não pago efetuado pelo capital.
Além do controle imposto pelo salário, existe a necessidade de controle fora do próprio trabalho, o que significa transformar as pessoas em autômatos em todos os aspectos de suas vidas. Induzindo assim uma mentalidade da futilidade, que aponta sempre para o que é superficial na vida, como o consumo de necessidades criadas pela própria iniquidade do capital.
Dessa ideia geradora, surgiram as grandes indústrias, a fabulosa publicidade e até mesmo universidades. Todas conscientemente dedicadas à convicção de que é preciso controlar as atitudes e opiniões, porque de outra forma a massa humana disforme ganha forma de revolta social, e se torna muito perigosa.
Exatamente por este motivo, cabe bem na mentalidade de um escravo associar o poder à única forma de vida possível. E cabe bem nos desígnios do senhor dos escravos encorajar tal sentimento de dependência. Sente-se agora que o trabalho é a mais eficiente polícia, pois retém cada indivíduo pelo freio e sabe impedir com firmeza o desenvolvimento da razão, do desejo e do prazer da autogestão. O trabalho faz despender enorme quantidade de energia humana, e subtrai essa energia da reflexão, do sonho, da inquietação, do amor e do ódio.
No entanto, há uma contradição insolúvel que atravessa o âmago da sociedade capitalista moderna: é a contradição entre a sua necessidade de excluir as pessoas da gestão de suas próprias atividades, e ao mesmo tempo requerer a participação delas, pois sem a participação humana, essa sociedade ruiria.
Tal sentimento expressa claramente a tentativa dos burocratas de converter seres humanos em objetos, seja através da violência organizada burocraticamente, da mistificação criada pela religião, das novas técnicas mercadológicas para se vender desejos e sonhos ou da manipulação de esperanças de felicidade.
Assim, o funcionamento do capitalismo burocrático cria as condições a partir das quais uma consciência revolucionária pode emergir. Essas condições são parte integrante da totalidade da estrutura social alienante, hierárquica e opressiva.
Sempre que se trava uma luta, se é forçado, mais cedo ou mais tarde a questionar a totalidade da estrutura social e recusar, finalmente, que sejamos tratados de acordo com aquilo que produzimos.
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2. |
(Un Mar de Fueguitos)
01:37
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"A man from the town of Neguá, on the coast of Colombia, could climb inot the sky. On his return, he described his trip. He told how he had contemplated human life from on high. He said we are a sea of tiny flames. “The world,” he revealed, “is a heap of people, a sea of tiny flames.” Each person shines with his or her own light. No two flames are alike. There are big flames and little flames, flames of every color. Some people’s flames are so still they don’t even flicker in the wind, while others have wild flames that fill the air with sparks. Some foolish flames neither burn nor shed light, but others blaze with life so fiercely that you can’t look at them without blinking and if you approach, you shine in fire."
"Um homem do povoado de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir no alto do céu e na volta contou: disse que tinha contemplado lá de cima, a vida humana, e disse que somos um mar de pequenos incêndios. “O mundo é isso”, revelou, “um monte de gente, um mar de pequenos incêndios”. Não existem dois incêndios iguais, cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras, existem incêndios grandes e incêndios pequenos, e incêndios de todas as cores. Existe gente e incêndio sereno, que nem fica sabendo do vento. E existe gente de incêndio louco, que enche o ar de faíscas. Alguns incêndios, incêndios bobos, não iluminam nem queimam. Mas outros, outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem pestanejar e quem se aproxima: se incendeia."
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3. |
Gears
02:37
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"The customer satisfaction cannot and should not be achieved. CONSUME requires the creation of new needs and the accumulation of these false needs increases the discomfort of the human being, increasingly confined to the single state of consumer. Furthermore, the richness of consumer goods impoverishes authentic and free life."
Gears
We put a price on all life
the sweat turns into profit
flesh and metal merge with the gears
We try to determine
who will be the slaves
and who will be the masters
but the chains end up holding us all
(Life is not a product)
What we live
and what we fell
worth much more
than the price
they put on our bodies
With our hearts
we break the chains
"A satisfação do consumidor não pode e não deve ser alcançada. CONSUMIR exige criar novas necessidades e o acúmulo dessas novas falsas necessidades aumenta o mal-estar do ser humano confinado cada vez mais ao estado único de consumidor. Além disso, a riqueza em bens de consumo empobrece a vida autêntica e livre."
Engrenagens
Em toda vida colocamos um preço
e o suor se transforma em lucro
carne e metal se confundem às engrenagens
Tentamos determinar
quem serão os senhores
e quem serão os escravos
mas as correntes acabam prendendo à todxs
(A vida não é um produto)
O que vivemos
e o que sentimos
vale muito mais
do que o preço
colocado em nossos corpos
Com nossos corações
quebramos as correntes
Toda educação tem como finalidade modelar a sociedade. Negamos a crítica e passamos a acreditar cegamente na habitualidade dos fatos: portanto, se é habitual, é necessariamente verdadeiro. É um tipo de (de)formação a qual estamos acostumados desde a mais distante infância.
A família, a escola, a universidade, os especialistas e a igreja constituem os grandes modelos deste tipo de formação. Sendo, essas informações, constituídas nas suas formas mais elementares como um saber em conserva. Um saber sobre o qual não cabe à crítica ou a dúvida.
Aprendemos, desta maneira, o que, quando e como consumir.
Tudo pode ser comprado.
E tudo pode ser vendido.
As nossas carnes, as nossas vidas, tudo. As nossas esperanças, os nossos corações, o nosso amor, o nosso ódio e a nossa revolta.
Tudo.
A lógica do consumo é tão perversa que a satisfação desse consumidor não pode e não deve nunca ser alcançada. A lógica do consumo exige que novas necessidades sejam criadas e estabelecidas como metas, sendo, obviamente, também verdade que a acumulação dessas necessidades falsamente produzidas aumenta o mal estar do ser humano - confinado cada vez mais ao estado único de consumidor. E, de qualquer sorte, a riqueza acumulada em bens de consumo faz a vida autêntica empobrecer e, continuamente, desvanecer.
O Estado é uma instituição desenvolvida através da história das sociedades humanas para impedir a união e a comunhão direta entre as pessoas, entravando de sobremaneira o desenvolvimento da iniciativa local e individual, aniquilando as liberdades antes mesmo que possam se desenvolver plenamente. O Estado é uma instituição elaborada para submeter as massas aos interesses, egoísmos e ambições das minorias ociosas e autoritárias.
Toda essa formidável organização existe para assegurar e desenvolver a exploração de animais humanos e não-humanos em favor de alguns grupos de privilegiados, que são quem constituem a verdadeira essência estatal.
A exploração do trabalho favorece a capacidade de ampliação da produção e, sua consequência lógica, uma maior disposição de produtos a serem consumidos. Tudo passa a ter, então, um valor monetário. Nossas vidas só têm valor, se este for um valor de mercado. Não importa se somos capazes de nutrir sentimentos por nossos pares. Não importa se somos capazes de sentir tristeza ou felicidade. Não importa se somos seres autônomos capazes de escolher por nós mesmos. Nada disso importa, pois nossas vidas não nos pertencem.
O sentimento de humilhação diária e constante nada mais é do que o sentimento de ser, perante o mundo, apenas um objeto.
Assim, o mundo continua a girar sob o signo da mesma ideologia, do mesmo deus, da mesma moeda, das mesmas empresas, das mesmas instituições. Monoteísmo, monopólio, monocultura, monogamia: monotonia.
Negar o que é imposto por essa (mono)civilização significa reabrir espaço para a pluralidade e abrir mão da uniformidade do consumo.
Tentamos determinar e especificar quem serão os senhores e quem serão os escravos, mas a verdade é que todos são oprimidos e a aparente vantagem de uns sobre os outros - como estar em um lugar mais privilegiado da pirâmide - é apenas um suborno do poder. Suborno esse que nos mantém presos e ideologicamente divididos, evita-se assim uma união capaz de destruir a ordem que nos domina também quando nos ensina a dominar.
Para quebrar as frágeis construções do consumo aqui estamos, com o coração em punho cerrado. Engatinhamos pelas frestas entre as paredes da igreja, do estado, da escola e da empresa.
Todos monólitos paranoicos.
Escavamos o concreto em busca de mundos perdidos.
Plantamos, sob as bases da civilização, as sementes que farão implodir os velhos prédios cinzas de concreto e dor, fazendo nascer, em diferentes tons e formatos, perigosos sonhos de um mundo mais igual.
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4. |
(Sueños Peligrosos)
01:23
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“O século XX que nasceu anunciando paz e justiça, morreu banhado em sangue, e deixou o mundo muito mais injusto do que tinha encontrado. O século XXI que também nasceu anunciando paz e justiça está seguindo os passos do século anterior. Lá na minha infância, eu estava convencido de que tudo o que na Terra se perdia ia parar na Lua, no entanto, os astronautas não encontraram na Lua sonhos perigosos, nem promessas traídas, nem esperanças estilhaçadas. Se não estão na Lua, onde estão? Será que na Terra não se perderam? Será que na Terra se esconderam? E estão esperando, esperando nós?”
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5. |
Loveless
06:33
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"People who talk about revolution and class struggle without referring explicitly to everyday life, without understanding what is subversive about love and hate, live and DIE, and what is to refuse their limitations, these people speak with a corpse between their teeth."
Loveless
I threw myself from the highest cliffs
from the most beautiful mountains
I threw myself from the largest buildings
Always knowing that the ground
would be the (final) destination
That the fall would be the path
And the wind would lead life
like carrying pieces of paper
What can we do with the crumbs of theories?
(Normality can properly
Teach people how to live
And how to die)
What can we do with the crumbs of theories?
I tried to hold the air
I tried to hold in the air
I tried to leave the flight
a rough landing
inevitable and painful
And then life became
a scenographic city
if you pull to strong
the walls fall down
Now I see through
these falling walls
That love is the only reason of life
Love for struggle
Love for resistence
Love for freedom
No Compromise
No Excuses
Freedom
By any means necessary
(We turn again to the streets
But we have changed
And the streets mean something different now
We walked and these moments changed us
We saw buildings burning
We were touched by death
We loved and we felt alive
We saw the moon rising behind the barricades
We heard the echo of our voice in the voices of others
We do not walk today
asking the power for grant
They had never legislated peace or freedom
Now their armies cannot occupy our dreams
And their prisons cannot contain our number
This is our world
And these streets belong to us
We are the other,
We are the unemployed,
We are the hungry,
We are the homeless,
We are the thieves,
We are the saboteurs,
We are taking the streets,
We are destroying corporations,
We are taking control of the factories,
We are walking through the night carrying a heart on fire.
all of us,
we are everyone,
we are one.)
"Pessoas que falam de revolução e luta de classes sem se referir explicitamente à vida cotidiana, sem entender o que é subversivo sobre o amor e o ódio, sobre viver e MORRER, e o que representa a recusa dessas limitações, essas pessoas falam com um cadáver entre os dentes.
(sem)Amor
Eu me joguei dos mais altos penhascos
das mais belas montanhas
eu me joguei dos maiores edifícios
Sempre sabendo que o chão
seria o destino final
que a queda seria o caminho
E o vento guiará a vida
como se estivesse carregando pedaços de papel
O que podemos fazer com os farelos das teorias?
(A normalidade consegue
ensinar adequadamente às pessoas
como viver e como morrer)
O que podemos fazer com os farelos das teorias?
(O poder nos teme
é por isso que ele nos persegue e nos cerca
é por isso que ele nos encarcera e nos mata
na realidade nós somos a possibilidade
dele ser derrotado e desaparecer)
Eu tentei segurar o ar
eu tentei me segurar no ar
eu tentei deixar a queda
uma brusca aterrissagem
inevitável e dolorosa
Então a vida se torna
uma cidade cenográfica
se você empurra com muita força
as paredes vêm abaixo
E eu vejo por detrás
dessas paredes despencando
que o amor é a única razão da vida
Amor pela luta
amor pela resistência
amor pela liberdade
Sem acordos
Sem desculpas
Liberdade
por qualquer meio
que seja necessário
Uma sociedade construída primariamente pelo discurso formal é e sempre será mais limitada do que uma sociedade construída pelo diálogo direto entre seus membros e seu meio. O discurso formal, diferente da organicidade do diálogo, é em si, menos complexo, ou seja, representa uma redução do real a um modelo ideal. Tudo o que temos em comum, diante do discurso formal é a ilusão de estarmos juntos.
É chegado o momento em que não existe uma ilusão do tamanho de nossa angústia. Basta estendermos a mão para nos tocarmos, levantar os olhos para nos encontrarmos e, por esse simples gesto, tudo se torna próximo e longínquo, como por mágica.
Foi exatamente isso que aconteceu, eles mentiram, venderam ideias de bem e mal, infundiram a desconfiança de seu próprio corpo e a vergonha pela sua condição humana e social. Eles inventaram palavras de nojo para o seu amor, criaram o pecado para controlar seu desejo. Instituíram o tédio com a civilização e todas as suas emoções insignificantes e mesquinhas.
Por este motivo que de todos os acontecimentos que, diariamente participamos, com ou sem interesse, a busca fragmentaria de uma nova forma de vida é o único aspecto ainda apaixonante. E as pessoas que falam de revolução e luta de classes sem se referir explicitamente à vida cotidiana, sem entender o que é subversivo sobre o amor e o ódio, sobre viver e morrer, e o que representa a recusa dessas limitações, essas pessoas falam com um cadáver entre os dentes.
As leis são regras feitas por pessoas que governam por meio da violência organizada e, quando não acatadas, podem fazer com que aqueles que se recusam a obedece-las percam sua liberdade e até mesmo sejam mortos.
Recusemo-nos então, já que somos capazes de improvisar uma nova cultura. Cada ação como um passo de uma nova dança sem coreografia, um verso livre de uma poesia escrita por várias mãos, uma história interativa contada entre amigos ou uma transa entre amantes interessados nas sensações de prazer de ambos e não na eficiência mecânica do ato.
O caos é anterior a todos os princípios de ordem e entropia, seus desejos primais englobam e definem suas máscaras, como nuvens, como cristalizações de sua própria ausência de rosto. Não há transformação, luta, caminho. Somos os monarcas de nossa própria pele - nossa liberdade inviolável espera ser completa apenas pelo amor de outros monarcas: uma política de sonho, urgente como o azul do céu.
Uma sociedade livre deve funcionar sem a interferência coercitiva de qualquer instituição cultural. Sua organização deve ser natural, já que emerge das relações entre indivíduos e ultrapassa qualquer conhecimento que esses indivíduos possam ter sobre si mesmos, a soma de suas individualidades ou os fatores ambientais que os afetam.
Tudo isso é pensado intuitivamente, sem que seja explicado. Esse sentimento faz com que estejamos despertos naquilo que amamos e até os limites do terror - todo o resto é mobília coberta, anestesia diária, tédio gerado pelos regimes totalitários, censura banal e dor desnecessária.
Não devemos então confundir com luta revolucionária, uma reforma nos meios de exploração das pessoas e do resto da natureza. Aparar as arestas do sistema é torná-lo mais adaptável às pessoas - e nos tornar mais adaptável à ele -, perpetuando sua própria existência.
Assim, se a revolução significar apenas uma explosão de poucos dias (ou semanas, ou meses), a ordem estabelecida - quer ela saiba, quer não - será capaz de superá-la. A sociedade capitalista de classes, no fundo, até mesmo necessita de tais abalos em sua estrutura. Esses tipos de movimentações permitem que a sociedade de classes sobreviva, por forçar uma transformação e uma nova adaptação de seus antigos modelos exploratórios. Um verdadeiro perigo. Explosões que destroem o mundo imaginário, no qual as sociedades alienadas tendem a viver, ajudam essas sociedades a eliminar métodos antiquados de dominação, e desenvolver métodos novos e mais flexíveis que a façam prosperar a custa de nossas esperanças e sonhos perdidos.
Podemos dizer que não podemos apenas quebrar as correntes, já que elas tem uma capacidade de readaptação e remodelação surpreendentes, devemos, sim, aniquilar por completo sua existência, até chegarmos ao ponto em que elas não mais existam.
Nossas ações devem ter por objetivo trazer uma renovação, devemos nos apropriar do que temos criado e que nos tem sido arrancado para ser colocado no mercado.
Nosso sono, nosso sonho, nossa festa.
Ou estaremos sempre vivendo no presente, condenados a nunca experimentar a autonomia, nunca pisarmos, nem que seja por um momento sequer, num pedaço de terra governado apenas pela liberdade.
Chegamos assim ao ponto em que as paredes das construções sociais e a vida em si mesma, se tornam uma cidade cenográfica, basta empurrarmos com um pouco mais de empenho, para que possamos ver tudo vir abaixo.
E o amor é a força necessária para fazer tudo desabar, pois quando se ama não se está pensando em segurança, duração, controle, posse, já que isso corresponde exatamente à forma com que o autoritarismo capitalista de estado se expressa.
É o amor em si mesmo que comanda a intensidade, a beleza, a forma e a duração da liberdade.
Através do amor, atacamos o reino da riqueza, porque essa assim chamada riqueza se apropriou de nossas vidas. Nos defendemos de um sistema que nos toma tudo, até mesmo nossa capacidade de sentir. Queremos viver de outro modo, flexionando a tangente do futuro que conduz atualmente à barbárie, já que está clara a impossibilidade de viver dentro do próprio quadro do capitalismo, do estado, do patriarcado.
É por este motivo que o poder nos persegue e nos cerca. É por este motivo que o poder nos encarcera e nos mata. É por este motivo que o poder nos teme: nós somos a possibilidade dele ser derrotado e levado ao desaparecimento.
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